A questão do conceito do clássico e de popular caracteriza-se como ideias difíceis de definir e chegar, em uma primeira vista, a uma definição concreta. O que é clássico perpassa uma série de fatores, entre eles, o aspecto econômico, local e temporal da mesma forma que a questão do popular caracteriza-se pela diversidade e o entendimento do que compõe a cultura de um determinado povo. Por isso, as diversas linguagens interagem na construção deste evento que visa a discutir o que nas várias linguagens entende-se a partir de tais ideias tão polêmicas.

No universo literário, o que se denomina de clássico parte de panorama no qual, por muito tempo, entendeu-se que o clássico estaria ligado ao caráter da universalidade na escrita e a concepção de primor nela, enquanto o popular estaria relacionado às produções orais, característico de um registro o qual ultrapassa o espaço da academia.

O clássico também pode ser encontrado nas línguas. Esse conceito hoje está fortemente ligado a línguas como o grego e o latim pela posição histórica que essas línguas ocuparam durante muitos anos além de razões políticas, econômicas e religiosas. Assim como a língua portuguesa, a língua espanhola é bastante conhecida como sendo uma língua neolatina, mas não podemos esquecer que a língua inglesa, apesar de ter uma origem diferente, recebeu muita influência do latim na sua própria construção. É nesse sentido que propomos também uma discussão sobre a influência das línguas clássicas na formação de línguas modernas.

Em outro plano, do universo artístico, as danças, por exemplo, são consideradas populares quando veiculadas pelos meios de comunicação e praticadas pela comunidade. São vistas como as danças da moda. Algumas delas permanecem na atualidade, chegando a incorporar-se ao grupo das danças tradicionais ou folclóricas de um povo. Já a dança clássica assume o uso consciente do corpo e do movimento na invenção imaginativa de dois mundos, o real e o ideal. Um tronco que representa a dureza, a estabilidade, produzindo movimentos sutis, uma busca pelo além-terra, por outro mundo, idealizado, romântico, poesia e beleza em corpos quase desencarnados. Enquanto que a dança popular é uma manifestação cultural de um povo, mantida por prática social, passível de evolução, que não se universaliza, não é competitiva nem cênica. Cada dança carrega em si um reflexo da vida de seus integrantes logo, o que é dançado aponta sentidos implícitos e explícitos sobre suas necessidades, seus anseios, suas perspectivas, seus ideais, suas religiosidades, etc.

No espaço musical, a ideia de clássico restringe-se, para determinadas leituras, a um período histórico, de modo que os critérios para definir o que seria uma música clássica e uma música popular são muito subjetivos e abrangentes, mas de forma bem simplificada podemos entender que música clássica são obras compostas entre 1750 e 1810 por compositores como Wolfgang Amadeus Mozart, Joseph Haydn e Ludwing Van Beethoven. Tais composições têm características como equilíbrio, proporção e clareza, sem deixar de lado a erudição dos compositores em demonstrar seus conhecimentos musicais nas formas de composições e dos elementos estruturais. Já a música popular permeia vários períodos da história da música, sendo ela composta de forma mais simples em sua estrutura e em suas letras contemplam temáticas de fácil compreensão, para exemplificar, poderíamos nos referir a compositores como Cazuza, Roberto Carlos e Renato Russo.

No contexto da arte clássica, observa-se que esta é concebida por artistas com formação acadêmica e que, por isso, seu valor estético é indiscutível. Enquanto que a arte popular é aquela produzida por um grupo sem formação acadêmica, que na maioria das vezes retrata cenas do cotidiano e não tem preocupação com a técnica artística utilizada. Muitas vezes, sua autoria é anônima ou fruto de trabalho coletivo.

Quando passamos para a definição do clássico e do popular no campo das Ciências Sociais, mais especificamente da Sociologia, chega a se confundir com a concepção de cultura. Tal aproximação se dá, principalmente, pelo fato de a cultura constituir um elemento fundamental para a compreensão da dinâmica social. Sendo assim, a consideração do que é clássico e popular está diretamente relacionada à compreensão do que se convencionou chamar de cultura clássica e/ou erudita e cultura popular. Dispostas em polos opostos, ambas têm motivado e alimentado debates acalorados na Academia e nos mais diversos espaços sociais, dando vazão a muitos discursos que circulam livremente na sociedade. Comumente associada à ideia de requinte, rebuscamento e elegância, o clássico (ou a cultura clássica) é vinculado ao saber científico, a conhecimentos elaborados a partir de estudos aprofundados e socialmente validados. Em contraposição, o popular é, via de regra, concebido como um saber vulgar, mal elaborado e que, por ser oriundo do senso comum, acaba sendo tomado como inferior, de valor questionável, por vezes até ilegítimo.

Entretanto, a Sociologia alerta para a necessidade de sermos mais cuidadosos diante dessa “rivalidade”. Para tanto, cabe uma reflexão sobre esse distanciamento construído e naturalizado a partir de processos sócio-históricos, imersos em relações de poder, a fim de que se possa romper com essa separação mal fundamentada. Bem como é urgente a compreensão de que tanto o popular quanto o clássico possuem o seu valor, sendo ambos fundamentais para a formação da identidade de uma sociedade. Mesmo porque, a pluralidade cultural (de ideias, saberes, práticas e crenças) é indispensável para a promoção da igualdade entre os grupos humanos.

Para finalizar, “não finalizando”, no contexto da tecnologia, esta vista como um produto da ciência e da engenharia que visa à resolução de problemas, destacam-se as tecnologias de informação e comunicação (TIC’s) que dizem respeito aos processos de tratamento, controle e comunicação de informação, fundamentalmente baseados em meios informáticos, a definição de clássico e popular nas TIC’s é relativa ao pioneirismo em aspectos técnicos e metodológicos e, devido à rápida evolução das tecnologias, não é necessário décadas ou séculos para se evidenciar o classismo de uma tecnologia que influência gerações de outras. Como exemplo, podemos citar o jogo eletrônico (software) Super Mario Bros lançado pela Nintendo em 1985, considerado um clássico, o game foi um dos primeiros jogos de plataforma com rolagem lateral, recurso conhecido em inglês como side-scrolling. Apesar de não ser o pioneiro do uso da técnica side-scrolling, o jogo transcendeu gerações e ainda hoje possui público e apresenta-se em várias versões tecnológicas mais contemporâneas (com gráficos mais elaborados e para diferentes hardwares) e influenciou uma geração de novos jogos.

Então, o que dita o clássico? O que determina que algo se tornou popular? Deu para perceber que a temática é ampla, repleta de contradições e ideias em vários campos. Assim, nesta semana teremos a oportunidade de nos aprofundar na discussão, por meio de participar de palestras, oficinas, concursos, entre outras atividades, que enriquecerão aqueles que visitarem e fizerem parte deste evento bastante rico. Por isso, visite o nosso blog Cult, discuta em nossos espaços e reflita sobre esses conceitos tão amplos, sinuosos, mas que fazem parte de uma releitura tão necessária nos dias que correm.

— Comissão da II Semana de Linguagens.

Edição & Revisão por Profa. Me. Ana Cristina Pinto Bezerra